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A verdade pragmática é aquilo que é real de um sistema de valores, mas como verdade e realidade não são sinônimos, buscaremos, a partir da nossas verdades e realidade, trazer textos sobre tudo. Este blog também abordará assuntos acadêmicos referentes à psicologia e comunicação institucional. E com o tempo esperamos adicionar mais assuntos através de outros colaboradores.



sábado, 23 de abril de 2011

"Pleno"

Imagem: G1.com
 Ele nasceu em um casebre frágil e de aspecto sujo propiciado pelo tempo. É da região superior do país. Cresceu entre muitos irmãos com pouca comida e vestimenta. A diversão era feita por brincadeiras que exigiam apenas o corpo.

 Seus olhos cresceram e viram dor e necessidade. Seus pais não eram tão intangíveis o quanto pensava. Percebeu que sua presença não era bem vista mesmo tendo boa conduta. Era necessário que seu corpo trouxesse significados, marcas, rótulos e seus bens uma mensagem: poder. Ele não tinha muitas marcas. E só tinha o poder de seu corpo. Mas o seu espírito alegre e espontâneo conseguia quebrar resistências.

Resolveu que iria ser palhaço. Porque era bom nisso. E é uma forma de sobreviver e conseguir marcas, poder. Com muito esforço claro.

Entrou para o circo de sua cidade. Lá, de corpo e alma espalhou o seu talento. Ele deixava as pessoas felizes e isto o alegrava. Mas ele e sua família ainda sofriam muitas dificuldades. Notou que precisava mudar de circo. Precisava ir para o circo maior onde acabaria com as suas dificuldades e da família.

Refletiu que para mudar de circo precisava ser um palhaço melhor. Olhando bem, ele não era ele próprio onde estava. Era mecanizado, engessado, sentiu-se substituível. Teria que ser único. Resolveu andar sozinho e fazer palhaçada. Sem interferência. Com assinatura própria, ou melhor, como tem uma certa dificuldade na escrita, um dedo próprio. Queria a perfeição. Ser um perfeito palhaço. Marcas. Poder.

Inventou um estilo próprio. Uma voz. Observou grandes palhaços. O que funcionava e o que não ia bem. Atentou para os temas que faziam e fazem grande sucesso para as suas piadas. Aprendeu humor corporal. Criou uma fantasia. Um personagem. Peruca, boina, bigode falso, roupas coloridas. Se tornou um mestre. Precisava ser reconhecido. Teve a ideia de fazer uma música. Seria o seu cartão de visitas. Um slogan de tema popular aliado aos seus trjeitos cômicos.

Fez um estouro. Todas davam risada dele e o chamava de grande palhaço. Entrou para o circo maior. Com o acesso a um público tão grande conseguiu suprir as suas necessidades e da família.

Imagem: http://www.renildanews2.jex.com.br/

Mas ele não se contentou. Achou que com mais esforço conseguiria ser um palhaço melhor e como consequência teria mais poder. Ficou obcecado. Queria atingir um nível de palhaçada que nem sequer conhecia. E conforme o tempo passava e sentia a sua imobilidade, estagnação, se angustiava. Não sabia mais o que fazer.

Até que veio o convite. Um palhaço de alto escalão precisava de apoio do público para fazer com que seus amigos, palhaços impopulares, voltassem a frequentar o grande circo. Ao constatar a popularidade de nosso palhaço e o desconhecimento do desrespeitado público sobre as normas de acesso ao grande circo, o convida para concorrer a uma vaga em nome de sua zorra.

Nosso palhaço não se atraiu inicialmente, mas o palhaço de classe demonstrou as vantagens: "Fantasia da melhor qualidade. Poderá até fabricá-las e vendê-las. Ótimo ambiente, todos dão gargalhadas por lá. O nosso salário?! Sempre nos faz rir. Horário flexível. Entramos e saímos a hora que quisermos. Fingirmos trabalhamos com metas. Temos assistentes pra tudo. Nem mais nossa bunda limpamos. Pode-se levar familiares. Quantos quiser. Prezamos o convívio em família. Pode-se insultar tudo e a todos. Temos imunidade".

Nosso palhaço ficou maravilhado. Era o que procurava. Ponderou que a perfeição da palhaçada chegaria somente quando ele, ao ser apontado de palhaço, pudesse apontar de volta e também usar o termo. "A perfeição da palhaçada não é restringir o palhaço a uma só pessoa, no caso eu, mas fazer com que todos sejas palhaços. Todos terem papel de igual importância na construção da piada. Fazer um estado e até um país inteiro de picadeiro. Pode-se dizer que a perfeição do palhaço não pode ser alcançada por uma individualidade, mas em uma ação conjunta que constrói o palhaço 'pleno'".

O palhaço foi eleito.

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